sábado, 1 de abril de 2017

# Fotógrafo Convidado do Mês de Abril Tiago Miranda #












Comecei por fotografar num país onde nunca mais voltei mas que desconfio que já não existe, Macau, que ilusoriamente os portugueses tinham como território nacional e os chineses acreditavam ser uma extensão natural da China, era a verdadeira terra de ninguém ocupada por sonhadores exilados vindos de Portugal e sonhadores foragidos da china comunista. Cresci lá dez anos, na idade em que a idade não tem importância e aprendi a fotografar com Mica Costa Grande. Aos 18 voei para a Escola de Belas Artes em Lisboa onde fiz Design de Comunicação, mas principalmente fotografei para o jornal universitário Fazedores de Letras, enquanto simultaneamente frequentava o curso de fotografia nocturno do IADE. Concluído o natural período escolar de tentativas de revolução falhadas, noites de três dias e consumo compulsivo de tendências fotográficas e culturais diferentes, comecei por sorte (há sempre sorte nestas coisas) a fotografar para o Jornal Expresso onde permaneço até hoje. Pelo caminho tornei-me sócio da agência fotográfica 4SEE onde o americanismo "give back to society", neste caso "photography", é levado a sério. Das coisas que mais me atormenta no ato fotográfico é o que fica sempre por mostrar, é sempre preciso uma certa arrogância para se acreditar tanto na visão pessoal que se tem a certeza que o que deve entrar na fotografia é X e não Y. Como documentar o máximo possível do que se vê sem baralhar o leitor? É a minha angústia diária. Há muitos anos que tenho uma pasta no computador que diz "mais fundo", partilho agora parte do seu conteúdo porque acho que faz parte dessa eterna dúvida. De resto, mesmo em estúdio, prefiro fotografar sempre as pessoas em território próprio, parece-me mais justo e deixa-as mais à vontade.