quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Concerto Joanna Newsom
Casa D a Música
Porto, 24 Janeiro 2011
Fotos:Paulo Pimenta
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Joanna a ‘élfica ninfa’...

(en)cantou na Casa da Música

Pode até parecer demasiado enfático, mas a melhor das sensações que um espectador ou melómano pode experimentar é a de estar em Janeiro, o ano mal começou, e de já ter sido presenteado com um dos concertos do ano. O tiro de partida foi dado por Alasdair Roberts e, mesmo actuando a solo, o músico escocês foi portador de uma sonoridade que, a espaços, nos amansou a nostálgica ausência de um Festival Intercéltico (um crime de lesa-património musical cometido pelo actual executivo camarário e ainda não reparado, deve dizer-se). Ainda com o público em ponto-morto, o músico dedilhou meia-dúzia de temas interessantes e deixou no ar a certeza de que alguns curiosos o vão acompanhar.

Após um intervalo cu(o)mprido, fez-se escuro na plateia para que se fizesse luz no palco: Joanna Newsom entra com um vestido a roçar a cor-de-fogo, com um corte ‘mini-mini’, disposta “a incendiar as almas”, no bom sentido é claro, até porque a ideia de Purgatório esteve sempre muito afastada destas paragens. De resto, a californiana conseguiu levar muita gente ao Céu logo no primeiro tema em que tangeu a harpa, o magnífico “The Book of Right-on”, do primeiro álbum da artista The Milk-Eyed Mender. Mostrou destreza ao piano, mas reconhece(-se) que é exímia na harpa. A figura luminosa de Joanna invadiu o espaço, apoiada num quinteto de reconhecida valia, onde sem cometer o pecado da discriminação se destacam o multi-instrumentista Ryan Francesconi, que a seu cargo teve a flauta, as guitarras acústica e eléctrica, o banjo, o bandolim e a voz, bem como Neal Morgan na bateria e percussões. O trombone e os violinos também não desmereceram e afinaram pelo mesmo diapasão.

Num registo musical que podemos situar entre uma folk naif e a música medieval europeia, Joanna Newsom revela uma ímpar capacidade de variação vocal, autêntica, perene de originalidade e que traça algumas secantes de legado de influência, mais a Kate Bush do que a Cat Power. Temas para guardar no baú do ouvido, para além da referenciada e entre muitas outras: “Peach, Plum, Pear”, também de Milk-Eyed, Mender a que acresce um dos grandes momentos da noite proporcionado por “Baby Birch”, do terceiro e último álbum Have One On Me. Para quem vinha à espera da figura de uma neo-hippie é melhor fazer uma actualização dos ficheiros, a ninfa da harpa mágica deixou, ainda que por momentos, a floresta encantada. Por falar nisso, quando é que volta?
João Fernando Arezes